Nos anos 70 Aloysio Raulino transforma o documentário no Brasil. Abre novas perspectivas. Já em Lacrimosa que ele realiza ainda na Universidade, 1970.
A duração do plano. Lacrimosa abre com um plano de extrema duração. O tempo passa a contar no cinema documentário. A duração, até Raulino, era decorrente da informação contida no plano. A partir dele, o tempo passa a ser uma forma de relacionamento com a realidade filmada. A realidade precisa de tempo.
As pessoas também. Esse é outro aporte fundamental. Tanto a demorada presença da câmera diante da pessoa filmada quanto o demorado olhar da pessoa filmada em direção à câmera esgotam a circunstância para deixar aflorar uma subjetividade que não se revela mas manifesta sua presença e sua opacidade.
Esses são pontos essenciais à poética de Raulino e sobre eles tínhamos resolvido conversar diante do público durante a retrospectiva no forumdoc.bh de 2013. E exibiríamos planos no ritmo da fala.
Há um outro ponto que achávamos essencial: a trilha musical. A música extradiegética é frequente nos seus filmes. Entradas e saídas de música sem apoio nos cortes nem nas articulações da ação surpreendem o espectador. Essa montagem sonora tem o efeito de abstrair o filmado, dizia eu a Aloysio, do circunstancial, ela desperta reflexão filosófica e provoca expansão poética.
Também sobre música teríamos conversado.
Currículo
Jean-Claude Bernardet
Escritor, ator e realizador de cinema.
Como citar este artigo
BERNARDET, Jean-Claude. A discreta revolução de Aloysio Raulino. In:forumdoc.bh.2013: 17º Festival do filme documentário e etnográfico – fórum de antropologia e cinema. Belo Horizonte: Filmes de Quintal, 2013. p. 130 (Impresso); p. 132 (On-line).