Ôrí é um filme que participou da vida e da organização do movimento negro da década de 70. É fruto do encontro de duas pesquisas: cinematográfica (Raquel Gerber) e histórica (Beatriz Nascimento). Iniciando em 1977, centralizado em São Paulo, documenta outros estados e alguns países africanos, fixando variadas manifestações da afroamericanidade que brotaram naquele período. Mas Ôrí também é um épico, que ao revelar o herói civilizador Zumbi, organizador do Quilombo dos Palmares e sua democracia, reentroniza-o no presente como organizador da consciência negra e por isso vale-se do texto poético. Como tal, passeia por múltiplas formas de rituais iniciáticos: os encontros universitários, congressos nacionais e internacionais, as Escolas de Samba, as religiões afro-brasileiras, as sessões de soul music, trazendo os anseios e os ritmos negros como continuadores da História dos povos africanos da Diáspora. Não é por menos que Ôrí, que em Iorubá significa “cabeça”, ao realçar o papel dos bantus na sociedade brasileira ao mesmo tempo projeta a contribuição cosmogônica nagô dos orixás. Por fragmentos que correspondem a processos iniciáticos, se quer um filme reflexivo sobre as atuais condições do planeta: as relações do homem com o outro e consigo mesmo, com a nação e a natureza.
>> Texto originalmente publicado como release de divulgação para o lançamento de Orí (1989), dirigido por Raquel Gerber em parceria com Beatriz Nascimento.
Currículo
Beatriz Nascimento
Historiadora, professora, roteirista, poeta e ativista.
Como citar este artigo
NASCIMENTO, Beatriz. Orí (1989). In:forumdoc.bh.2018: 22º Festival do filme documentário e etnográfico – fórum de antropologia e cinema. Belo Horizonte: Filmes de Quintal, 218. p. 110 (Impresso); p. 112 (On-line).