Para a nossa terra,
e é a única que é próxima à palavra de Deus,
um teto de nuvens.
Para a nossa terra,
e é a única distante de quaisquer adjetivos,
o mapa da ausência.
Para a nossa terra,
e é a única minúscula como uma semente de gergelim,
um horizonte celestial... um abismo secreto.
Para a nossa terra,
e é a única tão pobre como as asas de uma perdiz,
livros sagrados... e uma identidade ferida.
Para a nossa terra,
e é a única circundada por colinas fraturadas,
a armadilha de um novo passado.
Para a nossa terra, um espólio de guerra
a liberdade de morrer de uma saudade ardente
e nossa terra, em sua noite ensanguentada,
é uma jóia que brilha do distante acima do distante
e ilumina o que está fora...
enquanto nós, por dentro
nos sufocamos ainda mais
Esta terra é a nossa terra reúne alguns capítulos de uma história possível de um conjunto de relações: entre realizadoras/es e movimentos sociais dedicados às lutas fundiárias, urbanas e rurais. Enquanto tais, privilegia uma modalidade de relação – a articulação in loco com as mobilizações específicas, em pleno nascedouro, os momentos vivos e ainda prenhes de contradições de embates cujo resultado é indefinido¹. São, em sua grande maioria, filmes de testemunho em ato: menos que elaborações a posteriori sobre o processo histórico de movimentos ou lutas, e sim esboços, ainda parciais, de compreensão e registro de conflitos em curso. Por testemunho em ato, entendemos uma modalidade complexa de articulação entre memória e a elaboração acerca da emergência de experiências coletivas percebidas como inacabadas, em uma “passagem constante, necessária e impossível entre o ‘real’ e o simbólico, entre o ‘passado’ e o ‘presente’, um ‘misto entre visão, oralidade narrativa e capacidade de julgar’”². Dessa forma, nos filmes que compõem a mostra há ainda o privilégio de uma tradição estético-política específica: as diversas heranças do cinema direto e da centralidade do testemunho, da voz e da interpretação dos acontecimentos por meio dos protagonistas das diversas agências coletivas em cena.³
Enquanto narrativa historiográfica, Esta terra é a nossa terra se aproxima da rapsódia ao articular “narrativas distintas que podemos comparar a breves melodias consideravelmente mal articuladas umas com as outras que fazem, no entanto, parte de um grande movimento em conjunto e têm uma estrutura bastante fechada a despeito das aparências”⁴. Há diversas modalidades de luta popular em cena: desde a resistência camponesa e estudantil à construção do Aeroporto de Narita, em Sanrizuka, no Japão⁵, até a luta quilombola urbana nos dias de hoje, nos Luízes, em Belo Horizonte⁶; da organização de moradores na crise dos aluguéis na Londres dos anos 1960⁷ às iniciativas de autoconstrução, mutirões e organização popular de bairros nas periferias brasileiras⁸, dentre várias outras. Mobilizações profundamente dissonantes entre si, em uma concertação possível: frutos da emergência de um novo conjunto de forças socialistas, em uma espécie de Internacional efêmera e espontaneísta, refeita e desfeita ao sabor de pactos transitórios, da circulação de insurgentes e dissidentes de regimes não-alinhados, por entre guerras coloniais e sublevações, vitoriosas ou fracassadas, contra ditaduras militares; um cosmopolitismo revolucionário no qual a circulação de ideias foi movida ao sabor dos exílios e dos deslocamentos em apoio às novas forças anticapitalistas, e no qual a fossa e a autocrítica diante da derrota fertilizavam o florescimento de novas alternativas de mudança social⁹. Em suas contradições, a borrasca revolucionária do pós-guerra deitará raízes para algo profundamente distinto de si mesma, através da crítica aos compromissos oligárquicos e coloniais de partidos comunistas e socialistas; aos pactos autoritários com vistas à execução de projetos modernizadores e, em suas derrotas, à suposição de relações verticais e substitucionistas entre vanguarda e massas, à interpretação do leninismo como defesa da insurgência revolucionária enquanto expansão de um núcleo de quadros bem definido ideológica e programaticamente¹⁰.
Esta terra é a nossa terra registra uma miríade de movimentos de teor mobilista e basista, desvinculados da estrutura político-partidária de antanho, e documenta-se, juntamente a um conjunto bem definido de reivindicações – a moradia digna, a possibilidade de viver e morrer na terra que pertence a seus ancestrais, o direito de pisar sobre uma terra que não tem donos, o enfrentamento contra as remoções forçadas e os grandes empreendimentos – a emergência e as continuidades de uma nova forma de práxis política e de sociabilidade popular, assentada na pluralidade de vozes e em uma estrutura de poder que surge das bases da própria trajetória proletária. No caso brasileiro, é evidente que a emergência das novas formas de organização popular não se dissocia da história do Partido dos Trabalhadores¹¹ – o que não significa que o conjunto dos novos movimentos sociais que emergem a partir do final dos anos 70 estivessem abrigados no PT, mas que a própria lógica organizacional dos mesmos é que dá origem ao reposicionamento da tradição socialista empreendido pelo partido¹². São exemplares as experiências coletivas de ocupação e autoconstrução que, a partir a precariedade e da limitação de meios, vão dar origem a um amplo espectro de organizações coletivas que mudaram a face das cidades brasileiras – e cujos rastros estão dispersos por Esta Terra é a nossa Terra em um laborioso percurso de décadas, desde Fim de Semana, de Renato Tapajós, até Atrás da Porta, de Vladimir Seixas e Chapolim. Ou, ainda, a reorganização da mobilização campesina a partir da fundação do MST, com a invenção sócio-espacial do acampamento, onde “novas experiências são criadas, novas lutas nascem num processo contínuo”¹³ e no qual “outras aprendizagens que impõem a criação de uma vivência coletiva onde cada um(a) depende de todo(a)s e todo(a)s de cada um(a). Instaura-se um código de convivência com regras próprias e as decisões são tomadas em assembleias”¹⁴.
Há uma notável expansão do arco de mobilizações (com a emergência de lutas agroecológicas; a defesa das formas de auto-organização de vilas, bairros e favelas; a defesa de relações não-capitalistas com a terra e a natureza, o surgimento de novas formas de organização política de povos originários)¹⁵, que corre em paralelo ao “engajamento gradual em uma nova dimensão sonora, dona das imagens, que passa a ter o mesmo peso ontológico que estas últimas no cinema”¹⁶. Ou seja, às tentativas – ainda que em rascunho – de fazer com que a forma da experiência dos agentes da mudança fosse moldada segundo as vozes desses novos protagonistas que adentram a cena fílmica: múltiplas vozes, desde os camponeses de Tabqa aos Maxakalis do Vale do Mucuri, em várias configurações possíveis de um protagonismo coletivo. Trata-se de uma programação de filmes atravessada pela questão de como materializar a aliança, os vínculos que simultaneamente unem e separam ativistas e equipes de filmagem. E talvez ainda, tocada pelos esforços de replicar, na própria dinâmica de produção, os modos de construção coletivos descobertos nas lutas populares – desde o desejo de construção fílmica em coletivo de Ogawa até os esforços de auto-representação da ASCURI, passando pelo experimento da divisão de cinema da Organização para a Libertação da Palestina, dentre outros – e que pudessem dar origem a outros modos de fazer cinema em que:
a divisão de tarefas específicas não impede que todos participem de todas as decisões, o que difere profundamente da divisão de trabalho capitalista, alienada, ou do processo hierarquizado de tomada de decisões, onde cada um faz a parte que lhe compete fazer e perde a visão do conjunto, de forma a permitir a dominação centralizadora. A autogestão se opõe a este tipo de dominação¹⁷.
Os 23 filmes que compõem a mostra desenham essas linhas de força ao longo de dez sessões. A começar com o programa Ocupar, Resistir (1): esse lema dos movimentos sociais em prol de moradia atravessa estas obras às voltas com diferentes projetos nocivos de “revitalização” de cidade: Quando a rua vira casa (1981), de Tetê Moraes, tece uma análise sociológica da apropriação de espaços urbanos de uso coletivo em um bairro carioca; trinta anos depois, Atrás da porta (2010) vai partilhar da experiência de abrir prédios sem uso e dos despejos forçados pelo poder público; enquanto Braço armado das empreiteiras e Audiência Pública(?) (2014) revelam a combativa produção do Movimento Ocupe Estelita contra o projeto do Novo Recife. Outro grupo de filmes se dedica a modos de resistência por meio de Imaginar comunidades (2); está no conhecimento ancestral de Pirakuá - Os Guardiões do Rio Ápa (2014), no político enraizamento das matriarcas de Eles sempre falam por nós (2017), e em Loteamento Clandestino (1978) com seu vislumbre de alianças em prol da constituição de comunidade – entendendo-se instrumento pedagógico, o curta usou como atores e atrizes as próprias lideranças locais e companheiros da luta contra a ditadura.
Já Rua São Bento, 405 (1976), em uma defesa Pelo direito de existir (3), constrói um retrato humanista do Edifício Martinelli (primeiro arranha-céu brasileiro), explicitando a falência de certo ideal desenvolvimentista de nação com consequências concretas na vida das pessoas. Tal reivindicação ecoa fortemente nos dois filmes palestinos da mostra, They do not exist (1974) e The Roof (2006), que encontram na construção coletiva (e familiar) de memória de um território originário usurpado a afirmação incontornável de existência. A sessão O povo em movimento (4) reúne trabalhos que buscam na própria forma fílmica intervir no curso de Histórias de injustiça: Amuhuelai-mi - Ya no te iras (1971), de Marilú Mallet, explicita a desigualdade de direitos do povo Mapuche no Chile e o indiano A Narmada Diary (1995) se lança a documentar, no decorrer de cinco anos, as incessantes batalhas populares contra a construção das barragens no rio Narmada. Batalhas essas travadas contra o potencial genocida dos mega-empreendimentos afeitos à era do Antropoceno, e que reaparecem – semelhantes, mas sempre renovadas – em paisagens alhures, como na defesa dos camponeses de Sanrizuka em Narita: The Peasants of the Second Fortress (1971). E a luta continua (5) – afirma a singular equipe da Ogawa Productions em sua monumental empreitada de ativismo político-artístico por anos emaranhada na vida de seus participantes.
O cotidiano contra a catástrofe (6) abrange o curta da ASCURI Vida e Luta na Retomada Tei’ykue (2018), produzido no território Kaiowá em meio à terra devastada pelas forças do agronegócio no centro-oeste do país, e Everyday life in a Syrian Village (1974), do sírio Omar Amiralay, com seu olhar insistente aos gestos que se repetem há gerações resistindo à construção de mais uma hidrelétrica. A ação se faz urgente Atrás das barricadas (7): em Kanehsatake - 270 Years of Resistance (1993) da realizadora abenaki Alanis Obomsawin, que registra, no aqui e agora do encontro filmado, um embate entre mundos tendo como mote a terra indígena Mohawk. Já Lutar, morar, construir (8) reúne três médias-metragens sobre organizações comunitárias a forjar e dar a conhecer laços de morada: Fim de Semana (Renato Tapajós, 1976) e Mulheres no front (Eduardo Coutinho, 1996), no cenário brasileiro, e o britânico Not a penny on the rents (1969), costurado coletivamente pelo Cinema Action com sua pioneira reivindicação de greve frente ao aumento do valor dos aluguéis.
Os dois últimos programas se dedicam à terra em seu potencial de vida. Cantar o solo (9) diz da necessidade de contar/cantar a própria história, visível no média A classe roceira (1985) a testemunhar os primórdios do MST num acampamento rural paranaense em prol da reforma agrária, e no longa maxakali Nũhũ yãgmũ yõg hãm: Essa terra é nossa! (2020), que tem a sua estreia neste forumdoc.bh, em sua sensível caminhada junto aos espíritos yãmĩyxop. Por fim, Do chão brota a vida (10) no saber de cura dos seres sagrados no Tekoha Guaiviry em Pohã Re’yi - Família dos remédios (2020), e na espera resiliente pela chuva no assentamento agroextrativista de Sequizágua (2020), com o emprego de procedimentos mais assumidamente ficcionais. A mostra acompanha ainda um seminário homônimo com lideranças indígenas, quilombolas, de movimentos sociais, pesquisadoras/es e realizadoras/es de diferentes áreas a aprofundar e ampliar os debates. E uma breve fortuna crítica se inicia nas publicações do catálogo do forumdoc.bh.2020, com a tradução do artigo de Alex Napier sobre o filme de Anand Patwardhan, o manifesto de Shinsuke Ogawa, a republicação de “Loteamentos Clandestinos”, de Erminia Maricato, e cinco ensaios inéditos dedicados aos filmes da mostra escritos por César Guimarães, Cláudia Mesquita, Marcelo Pedroso, Rafael Urban e Vinícius Andrade.
Se Esta Terra é a nossa terra é uma rapsódia, é ainda uma narrativa de viagem, acidentada, repleta de interrupções e reviravoltas, que percorre modos de ser, modos de acreditar e lutar pelo direito de existir em seu território, no chão que viu nascer, ou renascer, vidas, desejos, atitudes e ações de transformação da terra em nossa, em lar.
Currículo
Carla Italiano
Pesquisadora em cinema e programadora de mostras e festivais. Doutoranda em Comunicação Social pelo PPGCOM-UFMG, com mestrado pela mesma instituição. Foi co-curadora das mostras Retrospectiva Helena Solberg (CCBB, 2018) e Jonas Mekas (forumdoc 2013), entre outras. É uma das organizadoras do forumdoc.bh e integrante da programação de longas-metragens do Olhar de Cinema de Curitiba. Natural do Recife e residente em Belo Horizonte.
Ewerton Belico
Curador, educador, roteirista e diretor. Integra a Associação Filmes de Quintal, responsável pelo forumdoc.bh - festival do filme documentário e etnográfico de Belo Horizonte - do qual é um dos programadores. Participou de inúmeros projetos de formação audiovisual popular, como o ponto de cultura audiovisual Quintal de Cultura - Aglomerado da Serra, no qual foi educador e coordenador. Foi co-roteirista do longa-metragem Subybaya, dirigido por Leo Pyrata, e co-roteirista e co-diretor de Baixo Centro, vencedor do prêmio de melhor longa-metragem na XXI Mostra de Tiradentes. Foi co-diretor do documentário Vira a volta que faz o nó, em co-direção com Ricardo Aleixo, Marco Scarassati e Luiz Pretti, registrando uma investigação em torno de exu realizada por Aleixo e Scarassati, lançado no Improfest - Festival Internacional de Música de improviso. Dirigiu ainda o curta-metragem A Memória Sitiada da Noite, com lançamento previsto no V Ecrã - Festival de cinema experimental. Atualmente desenvolve o roteiro da série documental A luta que não pode parar, e prepara as mostras A porta do Mundo - a música sertaneja no cinema brasileiro; Vidas Danificadas - o cinema de Edgar G. Ulmer e seus contemporâneos; e ainda O cinema de Geraldo Sarno, todas aprovadas no edital de mostras do CCBB.
Milene Migliano
Pesquisadora, produtora e professora. Doutora em Processos Urbanos Contemporâneos pelo PPGAU – UFBA, mestre em Comunicação e Sociabilidade Contemporânea pelo PPGCOM – UFMG e jornalista com formação complementar em cinema, também na UFMG. Investiga práticas contra-hegemônicas ativistas, transfeministas, marginais, a partir da perspectiva interseccional em contextos urbanos, em imagens e cinema, inclusive na internet. Integra a equipe da Editora Elefante, coordenando a produção do Ciclo de Lives para celebrar seus 10 anos, em 2021. Atualmente é Pós-Doutoranda no Grupo de Pesquisa Juvenália: questões estéticas, geracionais, raciais e de gênero em comunicação e consumo, no PPGCOM ESPM-SP.
Como citar este artigo
ITALIANO, Carla; BELICO, Ewerton; MIGLIANO, Milene. Para que seus sonhos imaginem outros mundos - reflexões a partir de uma curadoria. In: forumdoc.bh.2020: 24º Festival do filme documentário e etnográfico – fórum de antropologia e cinema. Belo Horizonte: Filmes de Quintal, 2020. p. 21-26 [Impresso]; p. 23-28 [On-line].
Notas
1. De certo modo, Esta terra é a nossa terra é a contrapartida historicizante de duas mostrasrealizadas em 2020: Cinema de Quilombos, coordenada por Cardes Amâncio junto ao Cinecipó; e da LONA - Mostra Cinema e Territórios, coordenada por Aiano Bemfica, Cris Araújo e Fábio Jota. A Lona mantém um acervo online, muito importante, de produções realizadas em ocupações contemporâneas, disponível em: <http://www.mostra-lona.com.br/acervo.html>.
2. Ver SELIGMANN-SILVA, Márcio. O local do testemunho. Revista Tempo e Argumento, v.2, n.1, 2010, pp. 3-20.
3. Sobre as múltiplas heranças do cinema direto, ver KRAMER, Robert e WISEMAN, Frederick. A discussion. Documentary Box - Yamagata International Documentary Film Festival, 1997. Disponível em <http://www.yidff.jp/docbox/12/box12-1-e.html>.
4. Niklaus, Robert. Diderot et le conte philosophique. In: Cahiers de l’Association internationale des études francaises,, n.13, 1961, p. 302.
5. Sobre o assunto, ver DEBUYSERE, Stoffel e GROETERS, Elias (org.). Of Sea and Soil - The cinema of Tsuchimoto Noriaki and Ogawa Shinsuke. Ghent: Courtisane/Sabzian, 2019. Disponível em: https://issuu.com/courtisanefestival/docs/tsuchimoto_ogawa-issuu.
6. Ver PEREIRA, Miriam Aprigio. Luízes, um quilombo em contexto urbano - história, memória, travessia e re-existência dos pretos das piteiras. Brasília: UNB, 2018. Disponível em: <https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/35825/1/2019_MiriamApr%c3%adgioPereira.pdf>.
7. Ver DAVIS, John. Rents and Race in 1960s London: New Light on Rachmanism. In: Twentieth Century British History, v. 12, n. 1, 2001, p. 69–90.
8. Ver SADER, Eder. Quando novos personagens entraram em cena - experiências, falas e lutas dos trabalhadores da Grande São Paulo (1970-80). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.
9. Como mencionado acima, Esta terra é a nossa terra tem a peculiaridade de reunir realizadores/as que partilham o engajamento e a destinação de suas personagens. Podemos citar, em uma enumeração apenas parcial: Ogawa manteve vínculos com diversos dos movimentos de esquerda revolucionária que emergiram nas universidades japonesas nos anos 60; Amiralay vivencia o exílio e depois a ruptura com o baathismo sírio, resultante de seu Everyday Life in a Syrian Village; Pathwardhan também viverá o exílio depois de seu documentário acerca da sublevação de Bihar; Tapajós, integrante da Ala Vermelha, viverá a prisão e tortura pelas mãos da ditadura militar; e a trajetória política e cinematográfica de Eduardo Coutinho é atravessada pela interrupção e retomada de Cabra Marcado para Morrer.
10. Sobre o assunto, ver GUIMARÃES, Juarez. Claro Enigma - O PT e a tradição socialista. Campinas: UNICAMP, 1990, p. 8, e ainda LENIN, Vladimir Ilitch Ulianov. Que fazer? São Paulo: Boitempo Editorial, 2016.
11. Um “movimento que se transforma em partido”, na expressão de Rachel Meneguello. MENEGUELLO, Rachel. PT - a formação de um partido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
12. Citamos Sader: “Uma comparação com os padrões existentes no período 1945-1964 certamente ajudaria bastante na compreensão do problema. Também nesse período a heterogeneidade social provocava a emergência de diversas formas de manifestação social (...). No entanto, a diversidade tendia a inscrever-se em registros unificadores, que ordenavam os diferentes movimentos atribuindo-lhes lugares diferentes.(...) Na década de 70 a diversidade se reproduzia enquanto tal apesar da presença de referências comuns cruzando os vários movimentos.” É evidente que as próprias contradições impostas pela competição eleitoral e, posteriormente, com a crise do pacto de classes lulista, passam a fomentar paradoxalmente movimentos que, ao se oporem à administrações petistas se alimentam de uma tradição de organização de base e de expansão do arco de lutas que adentra na cena pública através do próprio partido. Sobre o assunto, ver SADER, Eder. Quando novos personagens entraram em cena - experiências, falas e lutas dos trabalhadores da Grande São Paulo (1970-80). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001; e ainda SINGER, André. O Lulismo em crise - um quebra cabeça do período Dilma. São Paulo: Cia. das Letras, 2018.
13. Ver GONÇALVES, Renata. Acampamentos: novas relações de gênero (con)fundidas na luta pela terra. Lutas Sociais, n. 13/14. São Paulo: Neils, 2005a. p. 156.
14. Ver: GONÇALVES, Renata. op. cit, p. 157. O MST está presente em Esta terra é a nossa terra com os filmes A Classe Roceira, de Berenice Mendes, e Sequizágua, de Maurício Rezende. Mas esses filmes estão longe de esgotar a profícua relação que o movimento estabeleceu com o audiovisual brasileiro, desde sua pré-história, com Fazenda Sarandi, de Carlos Carmo e Ayrton Centeno, passando por trabalhos como Terra para Rose, de Tetê Moraes até o recente Chão, de Camila Freitas, dentre muitos outros.
15. Mesmo que ausentes da mostra, importa ressaltar o trabalho pioneiro empreendido por realizadores como Jorge Bodanzky, Geraldo Sarno, Evaldo Mocarzel, Jeanette Paillan, Zacharias Kunuk, Divino Tserewahú, Vincent Carelli, dentre várias/os outras/os.
16. MAIA, Paulo. Salve o direto. In: Catálogo doforumdoc.bh - 2010. Belo Horizonte: Associação Filmes de Quintal, 2010. p. 18.
17. MARICATO. Erminia. Loteamentos Clandestinos. Revista Módulo, Rio de Janeiro: Ed Avenir, v. 60, 1980, p. 91.