A perspectiva dominante nas mais diferentes vertentes do documentário é aquela que admite que o cinema se difere de antemão do real e que postula função do documentário capturar a realidade. O efeito de filmar, segundo essa vertente, é o de capturar o real na forma de sons e imagens, a mediação da câmera e do gravador (e do operador), sincrônicos ou não, tende a ser mascarada, em favor de um estilo-técnico-utópico que, como sugere João Moreira Salles de modo arguto, deseja representar um mundo sem consciência de estar sendo filmado.
Essa é, aliás, a impressão, sob suspeita, que temos a respeito de uma filmografia, convencionalmente chamada de cinema-direto norte-americano. O forumdoc.bh.2010 tem a ousadia de arranjar sob a alcunha de direto.doc uma mostra inteiramente dedicada a apresentar e discutir parte da filmografia de uma dezena de realizadores dos Estados Unidos e do Quebéc, que de formas diversas, associadas ou dissociadas, durante os anos 1960, souberam levar a cabo o sonho de através de uma nova técnica, nova possibilidade, potencializar o cinema em direção ao projeto naif, diriam os críticos mais severos, de filmar na duração, som e imagem sincrônicos, os mundos e as pessoas reais.
Um dos desejos da curadoria dessa mostra é o de superar visões totalizantes sobre essa filmografia, vez que os mais de 50 filmes apresentados, nem todos normalmente dependurados sob o guarda-chuva do cinema-direto, denotam modos criativos e heterogêneos, mantendo a hipótese de um espectador ativo e um cinema que, mais que representa, cria um mundo consciente de que está sendo filmado.
O elemento contumaz, a linha de fuga desse cinema, é menos a imagem, e mais o som, sobretudo o som direto e sincrônico à imagem: eis a nova técnica a serviço do homem. A diferença original entre filmar (imagem, cor) as pessoas, os animais, as plantas e os objetos em um espaço e gravar-lhes o som tende a ser reformulada na medida em que o som “filmado” é linkado, i.e., sincronizado às imagens e o regime da claquete/palma torna-se padrão. Curioso retorno à falsa analogia entre cores e sons tal como formulada por Jean-Jacques Rousseau em seu famoso Ensaio sobre as origens das línguas: “sem saber pintar para as orelhas, decidiu-se cantar para os olhos”. O cinema-direto coloca o ouvido no lugar do olhar.
Les Raquetteurs (1958), de Michel Brault e Gilles Grouxl, é considerado um precursor do direto, filme experimental e de passagem – assim como La Lutte (1961) – em direção ao som direto, sincrônico às imagens. Apesar de ter levado a fama de ícone gerativo do direto – considerando o efeito que viera a causar a Rouch anos depois –, é o próprio Michel Brault, em entrevista, quem adverte que, ao pé da letra, Les Raquetteurs tem pouco de direto, na medida em que não são muitos os momentos do filme em que o som é sincrônico. Filmada em 35 mm, a produção não pôde contar com uma câmera leve e silenciosa. Nessa fase de transição, o cinema quebequense ainda estava lidando com limitações tecnológicas relacionadas à câmera – sobretudo o barulho acentuado das de 35 mm e das primeiras câmeras portáteis em 16mm que interferiam na captação do som –, e os gravadores de áudio, pesados demais, além da dificuldade inicial em sincronizar, ainda que a posteriori, o som e suas imagens. Foi certamente o silêncio das câmeras portáteis que permitiu que o cinema falasse.
A história do cinema-direto narra o engajamento gradual em uma nova dimensão sonora, dona das imagens, que passa a ter o mesmo peso ontológico que estas últimas no cinema. Nos filmes de Pierre Perrault, por exemplo, a relação imagem e som é utilizada de forma bem peculiar. A imagem em alguns momentos simplesmente ilustra uma cena sonora. Um exemplo: Perrault recorda que certa vez havia gravado em seu famoso magnetofone uma história contada por “Le Grand-Louis” a respeito de um galo que lhe intrigou imensamente. Era fantástica, contudo, “pas des image!”. O jeito, confessou, foi a posteriori arranjar imagens não filmadas durante o momento em que o velho narrava a história, capturadas exclusivamente para ilustrar a história contada por Grand-Louis, um homem do povo. No Canadá, o direto corria na corrente contrária às peças de rádio, rompera com a linguagem formal e artificiosa das representações ordinárias, em favor de levar para a tela de cinema o povo quebequense, pois o verdadeiro, diríamos, não é um ser imaginado e roteirizado de forma a encarar uma personagem padrão, mas como nos diz Marcel Mauss, o verdadeiro é o melanésio de tal ou tal ilha, é Roma, é Atenas. Verdadeiro, nos termos desse cinema, é a fala de Alexis, Marie e Leopoldo da Île-aux-Coudres no magistral Pour la suite du monde (1962). Um bom filme de cinema direto é aquele que sabe escutar e dar palavra a toda gente, como sugere Nísio Teixeira em ensaio para este catálogo. Novo cinema, nova nação.
A mostra direto.doc está dividida em duas ou três vertentes do cinema-direto norte-americano dos anos 1960. A americana, propriamente dita, teve em Robert Drew e naqueles realizadores que se reuniram em torno dele sua expressão mais emblemática. Primary (1960) foi realizado por ele e pelo coletivo Drew Associates, cujos parceiros mais conhecidos eram Robert Leacock (grande fotógrafo que em 1948 já filmara com Robert Flaherty sua última obra, Louisiana history), os irmãos Albert e David Maysles (famosos por terem filmado juntos um dos maiores documentários do rock, Gimme Shelter, que narra de forma dramática a tragédia no concerto dos Stones em dezembro de 1969 em Almont) e D.A. Pennebaker (que imortalizou as imagens de outra estrela do rock, jovem, charmoso e, por vezes, arrogante: o lendário Bob Dylan, no conhecido Don’t look back (1967), focado em uma turnê pela Inglaterra dos anos sessenta).
Já a vertente canadense, mais especificamente a voga francocanadense, parece ter sido encabeçada por Michel Brault e Pierre Perrault no contexto do ONF – Office National du Film, cujo épico Pour la suite du monde (1964), que balançou Cannes em 1963, é tido como um divisor de águas, pelo modo surpreendente e jamais visto de expor as fábulas nas palavras do homem comum. O cinema-direto canadense desses precursores contava com alguns parceiros de guerra, Gilles Groulx, Marcel Carrière, Claude Jutra, Bernard Grosselin, Serge Beauchemin, dentre outros.
Entre os cineastas americanos, a mostra direto.doctambém optou por incluir alguns trabalhos, cujo diálogo com o cinema-direto é mais ou menos tenaz: Frederick Wiseman, nas palavras provocadoras de Tiago Mata Machado, cúmplice-delator das instituições americanas; Shirley Clarke – a única diretora mulher desta mostra! –, cujo filme Portrait of Jason (1967), como o nome indica, não é senão um retrato sincero de Aaron Payne, também conhecido pelo codinome de Jason Holliday, um homem negro e gay na América dos anos 60; Ed Pincus, o cineasta mais obscuro, pois o menos conhecido da curadoria, conclamado pelo inédito (no Brasil) Diaries 1971-1975 (1980), filme de família que se revela um verdadeiro tour de force e, finalmente, o inigualável John Cassavetes, que a tudo potencializa e que, com Faces (1968), parece ter nos ensinado como saltar de um trem em movimento. Os cineastas alinhados nesse bloco são uma espécie de suplemento do direto (para além do direto), cada qual com sensos de inventividade muito próprios.
Da vertente canadense a mostra direto.doc apresentará 6 curtas-metragens e 6 longas, produzidos entre os anos de 1958 e 1971. Os curtas, Les Raquetteurs (1958), La Lutte (1961), Les enfant du silence (1962), Geneviève (1965), Le beau plaisir (1968) e Éloge du chiac (1969), foram dirigidos por Michel Brault em parceria com outros realizadores. Trata-se de um conjunto de curtas bastante representativo de um novo estilo que não opera modificando e encenando as ações dos personagens, mas filmando-as tal como se dão durante o acontecimento.
Dentre os longas, a mostra tem a sorte de apresentar “la trilogie de l’Îleaux- Coudres”, projeto monumental de Pierre Perrault, composto pelos filmes Pour la suite du monde (1962), co-dirigido por Marcel Brault, também fotógrafo do filme, Le régne du jour (1967) e Les voitures d’eau (1968). Além de Entre la mer et l’eau douce (1967), Un pays sans bons sens! (1970) e L’Acadie, L’Acadie (1971). Grosso modo, essa vertente do cinema-direto canadense se enquadra, de forma bastante peculiar, num estilo de documentário que Guy Gauthier, em sua proposta de partilha do território do documentário, caracterizou de “les documentaires à portée de regard”, “centrada no presente ou na memória, com ou sem interação de um sobre o outro, e que toma por objeto um sociosistema, no qual a dimensão redutora não limita a ambição. Projeção metonímica de uma nação, de um povo, de uma civilização ou mesmo da humanidade, eles (os documentários) veem além do seu objeto”.
Já em relação aos filmes da vertente americana da mostra direto.doc, o papo é mais heterogêneo. Com exceção da trilogia JFK, produzida e dirigida por Robert Drew, composta por Primary (1960), Crisis (1963) e Faces of November (1964). O inovador Primary narra a ascensão meteórica de John F. Kennedy à presidência americana, marcando de modo inaugural o estilo de produção cinematográfica que privilegia a autonomia proporcionada pela câmera portátil 16 mm e o som sincrônico. Primárias é literalmente um filme de ação do gênero de perseguição: a câmera corre atrás dos candidatos e eleitores americanos na campanha da eleição de 1959. Crisis (1963), por seu turno, acompanha a crise deflagrada pela continuidade de um expediente racista no estado do Alabama, tendo o governador George Wallace tentado impedir a matricula de dois estudantes negros em cursos de verão daquele ano. Diante desse anticlímax, foi preciso, e necessário, a intervenção do presidente eleito John F. Kennedy. Crise foi filmado há exatos cinco meses antes da morte de JFK, cujo velório é retratado em Faces of November (1964), o terceiro filme da “série”. A mostra direto.doc apresenta um outro filme de Robert Drew que conta com JFK como o personagem principal, Adventures of new frontier (1961), episódio da série Close Up, produzida para a TV americana ABC, filme que mostra a atuação de JFK logo no começo da sua estada na Casa Branca.
O magistral cinegrafista Richard Leacock é o fotógrafo principal dessa nova onda americana. Desde Louisiana history (1948), do mestre Flaherty, a Jazz Dance (1954), dirigido por Roger Tilton, também programado na mostra direto.doc, passando por Crisis (1963), Leacock atuou em inúmeros filmes de seus colegas e diretores ligados à produtora de Robert Drew. Fotografou Yankee no! (1961) e The Chair (1963), dirigidos por Robert Drew, o primeiro, sobre o embargo estadunidense a Cuba e o segundo, um dos retratos mais perspicazes sobre a pena de morte, uma aula de design mórbido da cadeira da morte e o destino de um negro condenado. A sociedade americana aos poucos vai sendo criticada e desconstruída na medida em que seus canais de poder vão sendo um a um desmontados pelo cinema. Frederick Wiseman, como se verá, é o mais operante nesse desmonte.
Entre os filmes da mostra, Leacock também fotografou outros filmes, como o curta Rainforest (1968), dirigido e também fotografado por D.A. Pennebaker, que registra uma performance do ballet Merce Cunningham, com música de John Cage, figurino de Jasper Johns e cenário de Andy Warhol. Monterey Pop e 1 P.M, ambos dirigidos por Pennebaker, também contam com a participação de Leacock. O primeiro, realizado com uma enorme equipe de cinegrafistas e engenheiros de som, é um mega registro do festival pop de Monterey, ocorrido em 1967 na Califórnia. Filme que apresenta cenas de enorme difusão e apelo televisivo, como a famosa cena de Jimi Hendrix queimando a sua guitarra, enquanto a tropa americana incendiava alguma aldeia no Vietnã. 1 P.M por sua vez, também dirigido por Pennebaker, e fotografado por Godard e Leacock, filme rodado em paralelo ao filme One American Movie (1AM) que Godard realizou na América mas que jamais finalizou. O filme de Pennebaker é o filme do filme não finalizado de Godard.
A mostra ainda conta com outros dois filmes, esses dirigidos e fotografados por Leacock. A Stravinsky Portrait (1965) retrata o grande compositor russo Igor Stravinsky na época em que vivia na Califórnia e Chiefs (1968) mostra, no estilo direto, chefes de polícias e suas esposas falando abertamente sobre os Panteras Negras e os armamentos mais recentes da corporação.
Dentre os filmes dirigidos por Pennebaker, além dos já mencionados, destacam-se 6 curta-metragens produzidos entre os anos de 1954 e 1964. Em Baby (1954), registro que beira o onírico, a filha do diretor brinca em um carrossel no Central Park. Breaking up the museum (1960) mostra uma performance do artista Jena Tinguely nos jardins do Museu de Arte Moderna, uma imensa “máquina auto-construtiva/auto-destruidora” em homenagem a Nova Iorque. Happy mother’s day (1963) acompanha uma família e sua cidade no norte dos Estados Unidos. Lambert & Co (1964) é mais um filme jazzístico americano, e Campaign Manager (1964) retrata a “exaustiva” carreira de um jovem diretor executivo do Comitê Nacional Republicano.
Além de Gimme Shelter (1970), da filmografia de Albert e David Maysles, a mostra direto.doc apresenta ainda 4 curtas e outros 3 longas dos Maysles Bros. Dentre os curtas, Anastasia (1962) foca a vida de um dançarino americano, em plena guerra fria, no Ballet Bolshoi, enquanto Cut Piece (1965), filmado no Carnegie Hall, registra a famosa performance de Yoko Ono, que tem sua roupa dilacerada pelo público. Meet Marlon Brando (1965) acompanha esse ator que dispensa apresentações, e, finalmente, With love from Truman (1966) que faz um retrato intimista do autor e dramaturgo americano Truman Capote.
Na onda do iêiêiê de fábrica, o primeiro longa-metragem dos Maysles daqueles programados para a direto.doc, What’s happening! The Beatles in the U.S.A (1964), mostra uma viagem aos Estados Unidos da maior banda de rock de todos os tempos, os Beatles. Na flor da idade, os jovens da banda são enquadrados em busca de difusão de uma nova criatividade musical, muita fama e alguma histeria. Salesman (1968), filme que segundo Albert Maysles introduziu o drama no cinema-direto, inventou uma nova dramaturgia a partir do dia-a-dia de um grupo de vendedores de bíblias que encarnam o fantasma americano dos perdedores (“losers”). Grey Gardens (1976), outra obra-prima dos irmãos Maysles, é focado na vida de duas “ex-alguma-coisa” – Edith Beale e Edith Beale (mãe e filha homônimas) –, parentas de Jack O. O filme mostra com crueza o fracasso da vida e da casa de mãe e filha resultado de quase 40 anos de declínio e empobrecimento.
The cool world (1964), filme-cool de Shirely Clarke, compõe o conjunto de 4 longas da realizadora nova-iorquina exibidos na mostra. Há os que julgam que esse filme foi recebido com espanto por Hollywood, que achava seu estilo “realista” demais, “como era possível um cinema desse jeito?”, indagaram. Diante dessa impressão, Shirley Clarke responde ao espanto hollywoodiano dizendo simplesmente: “Bom, não foi difícil fazer o Harlem parecer o Harlem”. Produzido por Frederick Wiseman, cujo filme de estreia Titicut Follies data de 1967, The cool world enfrenta o mundo um tanto cruel da luta pelo poder entre gangues de rua do Harlem, e caracteriza um estilo bastante criativo de documentário ficcional. The connection (1962) é o filme mais antigo de Shirley Clarke na mostra, construído numa vibe que acompanha o ritmo dos jazzistas viciados em heroína, um retrato inteiramente roteirizado, mas não menos agudo enquanto comentário a respeito da sociedade americana, sobretudo, sua segregação racial. Esse comentário racial é radicalizado, como vimos, em Portrait of Jason (1967). Robert Frost: a lover’s quarrel with the world (1963), quarto filme de Clarke na mostra, é um documentário com o poeta americano da vida rural, Robert Lee Frost, cujo controverso e popular poema “The road not taken” parece incitar discussões acaloradas. O encontro de Clarke com Frost se dá no final da vida do poeta, que é filmado ante a morte, em uma das cenas, Frost recebe das mão de John Kennedy um prêmio, em breve, ambos estariam mortos.
Portrait of Jason (1967) dialoga de forma indireta com dois dos quatro documentários do cineasta Ed Pincus – convidado especial do forumdoc.bh.2010 –, Black Natchez (1965) e Panola: a portrait of a black man (1965). No primeiro, o diretor, que também fotografa os filmes, transita de forma livre entre os ativistas negros do FDP (The Mississipi Freedom Democratic Party) e do NAACP (The National Association for the Advancement of Colored People) no ano de 1964 em Natchez, uma pequena cidade do sudoeste do Mississipi, região fortemente marcada pela presença nefasta da Ku Klux Klan. Black Natchez é um filme voltado para o registro dramático e tenso dos “The Deacons”, milícia armada formada por jovens negros que lutam contra o racismo e a favor da dignidade de suas famílias. O segundo filme, Panola, retrata a vida de um homem negro, sua mulher grávida e seus nove filhos. Apesar da mensagem absolutamente direta de injustiça racial que surgem nas palavras e gestos de Panola, o filme não deixa de oscilar entre o cômico e o trágico. One step away (1967), por seu turno, dirigido em parceria com David Neuman, é um filme sobre os dilemas e conflitos de uma comunidade hippie, onde o conflito de gerações é patente na discussão entre pais e filhos adolescentes. Uma boa oportunidade para conhecer esse cinema inédito no Brasil.
Finalmente, para fechar o hall de cineastas do direto.doc, resta uma apresentação conjunta dos cinco longas-metragens – que o forumdoc exibe em 16 mm – do colossal realizador americano Frederick Wiseman: Titicut Follies (1967), High-School (1968), Hospital (1968), Juvenile Court (1973) e Welfare (1975), que compõem o tijolaço dessa mostra.
Wiseman é aclamado como o cineasta que, partindo de uma técnica fria de observação não-participante (câmera-mosca-na-parede), conseguiu filmar o funcionamento de instituições americanas, enfocando o modo das relações interpessoais e interinstitucionais entre os trabalhadores/servidores e as pessoas, de todo tipo, as quais as instituições assistem. Wiseman deixa a instituição, seus parceiros e seus reféns falarem por eles mesmos, sem questioná-los. Como o diretor revela, curiosamente, em uma entrevista – técnica de abordagem audiovisual ausente na invenção wisemaniana – ao programa Roda Viva da TV Cultura: “O que tento fazer em meus filmes é retratar eventos reais enquanto ocorrem. Entrevistas normalmente não fazem parte da vida cotidiana. Minha técnica é captar eventos não ensaiados e, depois, editá-los em forma dramática”. O efeito dessa técnica poderá ser conferido assistindo aos filmes apresentados na mostra.
53 filmes, 32 longas e 21 curtas-metragens, abrangendo uma tradição multicultural do cinema-direto. Chance única, sobretudo pelo fato de que muitos filmes serão apresentados em seus formatos originais em 16 mm e 35 mm, exceto os filmes canadenses que serão exibidos em formato DVD . O lado ruim: cada filme só será exibido uma única vez. O lado bom: são muito filmes, todos legendados, e a entrada é franca.
O direto.doc não teria sido possível sem o empenho de Carla Maia, que produziu de forma impecável essa mostra que agora apresentamos ao nosso público. Agradecemos também a Flávia Camisasca que coordenou uma extensa equipe de tradutores não apenas das legendas, mas também de alguns textos que constam na seção de ensaios do nosso catálogo. Entre estes, escritos originalmente para a mostra, destacam-se os ensaios de Ruben Caixeta de Queiroz, Tiago Mata Machado e Nísio Teixeira, a quem agradecemos de forma especial. O leitor ainda encontrará nessa seção dois pequenos textos de Pierre Perrault e Michel Brault, um manifesto de Albert Maysles, um textinho de Ed Pincus, além da tradução de um artigo inédito de Jean-Louis Comolli publicado na Cahiers du Cinema em 1969, escrito sob calor do direto. Finalmente, na noite do dia 20 de novembro, no Cine Humberto Mauro, teremos a oportunidade de debater o cinema-direto e a mostra que acabamos de apresentar, em uma mesa-redonda, com a presença de Ed Pincus, João Moreira Salles e Ruben Caixeta de Queiroz, mediada por aquele que escrevinhou essa modesta apresentação. Ah, o diferencial deste festival, feito na marra há 14 anos, é que curamos nossas mostras não para um público-alvo, mas para qualquer espectador, nós inclusive.
Salve!
Currículo
Paulo Maia
Antropólogo e professor Associado da Faculdade de Educação (UFMG). Co-fundador e curador do forumdoc.bh, destacam-se as mostras: Melanésia (2008), direto.doc (2010), Animal e a Câmera (2011), Queer e a Câmera (2016) e Mortos e a Câmera (2019).
Como citar este artigo
MAIA, Paulo. Salve o direto! In: forumdoc.bh.2010: 14º Festival do filme documentário e etnográfico – fórum de antropologia, cinema e vídeo. Belo Horizonte: Filmes de Quintal, 2010. p. 17-24.