Carla Maia
Fabio Costa Menezes
Gabriel Araújo
A função a nós atribuída foi observar, não julgar os filmes. Assim, fora de competição, os filmes se complementaram em nossos exercícios de observação. Destacamos um conjunto formado por obras que apostam no futuro, na invenção, na aliança, no coletivo. Essas são apostas absolutamente necessárias em tempos tão temerários como os nossos, destaques que conferimos não apenas a esse conjunto de filmes, mas que cabem ao festival como um todo, que aplaudimos e agradecemos, mais uma vez.
Mutirão - Destaque "O amanhã é coletivo": O destaque a Mutirão, de Lincoln Péricles, é também um destaque à criança Maria Eduarda Isaú e às mulheres de sua família, interligadas nesse processo de mutirão que faz nascer uma comunidade. Não é à toa dizer que é revolucionário colocar uma criança da quebrada pra comentar as fotos de acervo de sua própria construção. É política sendo feita no cotidiano, é educação política sendo construída na miudeza e é cinema de arquivo conduzindo as imagens do futuro.
Caixa Preta - Destaque “Ressonâncias da história”: Nesse embaralhar entre tempos e espaços, sons e imagens, reforçamos o destaque “Ressonâncias da história” a Caixa Preta, de Saskia e Bernardo Oliveira. Ao apostar na experimentação radical e nas complexidades e contradições que envolvem as imagens e sons negros, o filme constrói uma narrativa imersiva que se amplifica na caixa preta de uma sala de cinema. Há espaço para honrar aqueles que todo dia constroem existências, assim como investigar, na gira de um culto evangélico, a força do axé.
Alan - Destaque "Cinema aliança": Destacamos o longa-metragem Alan, de Diego Lisboa e Daniel Lisboa, por nos apresentar e honrar a trajetória e vida do artista Alan do Rap, a força de sua presença, de suas falas em rima, o modo como toma a cena, invade o palco, sua passagem pelo mundo e sua memória. Destacamos ainda, neste filme, o forte gesto de aliança: a relação de Alan, “irmão preto” com Diego, “irmão branco”, registrada no decorrer de 13 anos, revela uma história afetiva, de luto e encontro, laço e compromisso.
Abdzé Wede’õ - O vírus tem cura? - Destaque " Pela continuação do mundo": Pelo vigoroso trabalho de bricolagem das imagens do arquivo histórico, que o cineasta Divino Tserewahú mobiliza junto ao seu próprio arquivo, acumulado desde os anos 1990. Um projeto difícil, movido pela dor da perda dos anciãos de seu povo Xavante para a pandemia de Covid 19, ao qual ele responde com um gesto de cinema vivaz, que busca a força desses antigos nas imagens de seus filmes anteriores, nas imagens feitas no tempo do contato, na história da resistência dos Xavante frente a epidemias e à opressão da sociedade não indígena, no ato de fazer imagens para vencer, de alguma forma, o apagamento e o vírus. Um cinema que mobiliza vivos e mortos, passado e presente, para fazer o mundo prosseguir.